O Espírito Aventureiro

Sinceramente, não sei se devia escrever sobre isso agora. Não ainda, pelo menos. Fico pensando se ainda é cedo demais, se preciso amadurecer as ideias ou simplesmente deixar a mente fluir depois de mais um tempo. Mas, no fim, resolvi escrever sobre esse tal “espírito aventureiro” que dá nome a esse texto.

Trata-se de uma expressão que surgiu há pouco tempo, numa conversa entre mim e um amigo que mora aqui no Rio e que veio de Belém pelos mesmos motivos. Palavra vem, palavra vai, e de repente ele (ou eu; nem lembro, pra ser sincero) soltou essa expressão: “espírito aventureiro”. Se tratando de uma conversa solta, pode soar meio sem sentido, mas no assunto em questão fazia todo sentido. Falávamos justamente sobre a recente experiência de deixar o lar.

Imagino que seja o sonho de muita gente, principalmente entre aquelas pessoas que estão nos seus quinze a vinte e poucos anos, quando ainda moram na casa dos pais ou de outro parente. Logo de cara é incrível pensar em arrumar as malas, traçar um rumo, um destino para se viver, estudar (ou tentar, né?), conhecer novos lugares, pessoas, sair da rotina já bem conhecida e desbravar novos mundos e horizontes. Isso é o maldito “espírito aventureiro”! É quando se quer voar acima de todos os lugares pelos quais já se voou.

Confesso que foi uma das melhores decisões, e provavelmente a mais difícil também, a de seguir um sonho além do meu quarto, do meu bairro e da minha cidade. Mas antes que se pense que foi tudo lindo, eu digo logo que não foi. A semana que antecedeu a partida, que ocorreu no fim de fevereiro, foi algo que não desejo a ninguém, nem aos remistas. Muito choro e saudades antecipadas e após a despedida. Foi duro, como toda grande mudança, mas a gente se acostuma com o tempo.

Mudar assim, penso, é algo muito bom. Diria até necessário, se me perguntassem. O ser humano, em sua essência, é um ser curioso. Ainda bem, pois se não fosse, entre outras milhares de coisas, eu não estaria escrevendo isso, pessoas não estariam lendo e assim por diante. E acho que quando essa curiosidade começa a transbordar, chega a hora tomar uma iniciativa. Não é necessário manual de instrução nem nada, apenas vontade. Se houver vontade, aí vai acontecer.

Junto de mim, outros amigos, que compartilham o mesmo espírito, colocaram as mochilas e instrumentos musicais (curiosamente, todos eles tocam algum…) nas costas e partiram para novos lugares. E, além do espírito, eles compartilham as mudanças e experiências. No começo, tudo lindo: liberdade e tudo mais. Mas depois de um tempo, curto ou não, percebe-se que não haverá alguém para lhe acordar de manhã cedo para ir ao trabalho, universidade, escola ou o que for. Não terá alguém para preparar seu jantar e leva-lo ao seu quarto, enquanto você fica ali deitado sem fazer nada. E, o pior, não haverá alguém para lhe dizer um “boa noite” sincero. Puta merda! Isso faz falta, sim. As coisas simples assim fazem falta.

Quando se faz isso, sai do ninho, deve se ter em mente que estaremos sozinhos, tendo de agir como um adulto responsável até que nos tornemos um de fato. E não é fácil aprender a se virar. Ainda estou aprendendo, admito, e é uma estrada árdua, mas prazerosa. Aprendemos mais vivendo sozinhos sobre a vida e como ela é na realidade do que dentro de casa, sendo cercados por mimos e tudo o que queremos a um esticar de mão ou grito como “Mãe! Pega uma água pra mim?!”. Aprendemos a cometer erros e consertá-los sozinhos, e com isso fortalecer ainda mais as cicatrizes e marcas de guerra. Aprendemos que a vida não é tão fácil e simples como achávamos antes. Isso leva tempo.

Mas é algo que vale a pena, sem dúvidas. Não falo isso romantizando nem nada, mas sim como uma verdade. A gente aprende a ver o mundo de outra forma; aprendemos a olhar pela janela do nosso quarto e ver pessoas que nunca tínhamos visto antes. Aprendemos a cuidar mais de nós mesmos (pasmem, já sei fazer café sem cafeteira elétrica). Aprendemos a ter responsabilidades sobre as próprias ações, sabendo que não se deve fazer o que quiser toda hora, senão as chances de acabar em merda se tornam cada vez maiores. E sentimentos como saudade, tristeza e melancolia realmente começam a se tornar mais frequentes e reais; mas tudo isso faz parte dessa jornada, deixando ela cada vez mais atraente e desafiadora.

Não escrevo isso como alguém que realmente sabe de tudo sobre esse assunto. Moro longe de casa há singelos oito meses incompletos (que, em alguns deles, me senti como nos longos e intermináveis invernos de Game of Thrones), e ainda não conheço nem um décimo dessa cidade intrigante que se chama Rio de Janeiro. Entretanto, venho falar aqui porque sei que muitos dos que leem isso têm dentro de si um espírito aventureiro latejando, tímido ou que ainda não se mostrou, mas que está pronto para gritar e explodir, de uma forma boa.

Antes de arrumar as trouxas e os mapas surrados, é importante ter certeza do que se espera, mesmo que, no fundo, nunca saberemos o que nos espera do lado de fora da casa se não abrirmos a porta e sentirmos o vento bater em nossos rostos enquanto caminhamos para frente. Talvez, no fim, se deva fazer igual Bilbo e, mesmo já sabendo dos perigos e possíveis quedas, chutar o balde e sair correndo pela porta gritando “I’m going on an adventure!”. E, nos momentos de fraqueza, recorrer àqueles que estarão sempre nos apoiando, mesmo que longe fisicamente; e lembrar os motivos que nos fizeram, e fazem, voar mais alto do que já havíamos voado antes.

Abraços.

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